Auto da Inutilidade

Vim até aqui para ver se tinha deixado alguma coisa desarrumada, se estava algum papel fora do lugar. Estava tudo no mesmo sítio, da mesma maneira, sem que nada estivesse em posição indevida. Sentei-me, por demorados minutos neste lugar, a olhar para o mundo, para o que se passa em redor.

Um espumante que serviu para soltar a língua e a alma. Adequado ao momento.
Tudo na mesma, tudo igual, tudo como sempre. Nada de novo à minha frente, tal como aquele soldado alemão soterrado na imundice das trincheiras da grande guerra e que tinha como entretém, apenas, mirar os pássaros e desenhá-los.

Um espumante em perfeito estado de harmonia. Melhor ele, do que eu.
Sente-se e observa-se a profunda inutilidade de tanta coisa, de um avantajado aglomerado de nada, de nada que valha a pena. Resta, somente, abandonar este lugar de vigia, por agora, na esperança que haja esperança de um dia ser tudo diferente e que dos torrões de terra, quase estéril, nasça algo de novo. Até lá vagueia-se, num profundo estado de inutilidade.

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