Tá-se bem...

Após alguns anos a vaguear pela enofilia, após diversas e múltiplas primaveras e torneadas as emoções, a sensação que fica é que pouco ou muito pouco mudou. O olhar que tenho, desapaixonado nesta altura, é que será impossível sair da redoma em que estamos instalados. As incapacidades são de vária ordem e nem valerá a pena desenrolar o rolo. Seria repetitivo. Está-se assim, porque se quer estar assim ou porque será sempre assim. Ponto.
Observei atento e esperançoso, durante anos a fio, que aquilo, isto ou o outro tivessem a habilidade de prender, de dar um murro na mesa, dar a volta ao texto. Que carregasse o ar com asseio. Fatalmente ou não, tudo acabaria ou acabava por encalhar numa normalidade mórbida, num fatal cinzentão. Os rasgos que ainda perduram, não têm capacidade (ainda?) para alimentar uma esperança qualquer.
 
 
O status, e sem qualquer intuito pejorativo no uso da palavra, vive instalado, seguro, dominando diversas áreas, tentando agora, parece, ocupar nichos que estavam aparentemente a descoberto. Apetece dizer que, no entanto, não tem jovialidade, falta-lhe alegria, interactividade. Falta-lhe, ainda, muitas caras bonitas.
E rodeados por um cinto cada vez mais estreito, mais apertado, vai-se repetindo o que se sempre se fez, o que sempre se disse, vivendo agarrado a uma falsa segurança de não arriscar em ser diferente. Por isso, tá-se bem.
 

Comentários

Pedro Cruz Gomes disse…
Concordo, Pingus. Sabes que, onde mija um português, mijam logo dois ou três. Se o primeiro constata que, ao arrepio do futuro, este presente lhe dá dinheiro...
(É assim, não é?)
Perante este quadro amorfo português, valerá a pena publicitar a nossa indignação, sabendo que são murros em ponta de faca? Ou, já que são murros a doer, valerá a pena nomear os burros?
Abraço!