Na voz dos Deuses

O titulo do sermão de hoje deriva de uma obra manuscrita pelo saudoso João Aguiar. Cativa pela sua simplicidade, pela ligeireza da prosa. De forma resumida, o enredo anda à volta de Tongio, filho de um brácaro com uma mulher de Cineticum, companheiro de Viriato e das suas demandas contra os romanos.
Estarão, neste momento, meio estonteados, os leitores desta novela pinguesca com tamanha e rebuscada entrada. Fácil de explicar.
O vinho, como disse mais que uma vez, catalisa todo um processo de desmontagem e de confrontação pessoal. Quebra regras, liberta pensamentos, destapa um homem. Torna-nos em algo que não somos, mas que cobiçamos ser.

Alma andante, sem terra, e sem rumo, julgo ser, em momentos de ebriedade, personagem principal de uma história de fantasia, onde a realidade se mistura com a irrealidade. Ou, de forma mais contida, recordo momentos vividos.
O pior advém quando termina, depois, tudo de forma abrupta e dorida, restando, somente, a alegria de ter sido alguém que não sou. Ou ter voltado a viver, outra vez, episódios de uma história amputada de sentido.
Tongio, durante a odisseia, tenta perceber quem é, de facto, e qual o papel que lhe fora destinado. O mundo estava a mudar. Faria sentido vasculhar o passado de seu pai? O que lá vai, lá vai...

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