Myrtus, o esquecido

Num acto de contrição pública, assumo que ando constantemente desalinhado do grupo e dos grupos. Maldito hábito, desde tenra idade, em preferir, talvez por questões de romantismo ou heroísmo sem sentido, o lado mais fraco, ou aqueles que andam esquecidos. Eventualmente, esta propensão terá uma interpretação bem mais prosaica, bem mais simples do quero fazer querer ao mundo.
Com os vinhos passa-se o mesmo. Escolho amiúde aqueles que não caiem no goto dos restantes. Inaptidão? Alienação? Senso pessoal deslocado da realidade? Será tudo.

Myrtus será, com toda a probabilidade, mais um vinho que andará, incompreensívelmente, abandonado pelos cantos deste mundo. Os olhares estão, inexplicavelmente, virados para o Clássico. Sem o merecer. São dois vinhos com estilos díspares, é certo, antagónicos, com pouco em comum. O primeiro, o Myrtus, é vinho mais austero, menos exuberante, menos imediato. Fala menos, desafia mais. Um branco com maioridade, orientado para um consumo lento e nada frenético. O segundo, o Clássico, rege-se por outras cantilenas. Com lingotes de doce. Será da madeira exacerbada? Opulento, gordo. Incomodativo, por vezes.
Venha, portanto, o Myrtus que ficarei satisfeito e o mundo continuará a rodar como sempre. Em volta do Sol.

Post Scriptum: Vinhos disponibilizados pelo Produtor.

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