Des-Construção, Re-Alinhamento

Ultrapassados meses após as últimas alterações, efectuadas no Pingas no Copo, surge novamente no meu horizonte vontade de proceder a novos alinhamentos. São sinais, espero, de amadurecimento, de crescimento. É, também, o fim da inocência, é a chegada da idade adulta.
Por cada dia que passa, por cada mês que avança, as dúvidas evoluem, crescem, aumentam alucinadamente. Não consigo ter, agora, certezas de quase nada.
Reflecti, nos últimos dias, sobre o papel da blogosfera e a importância que este prosaico espaço desempenha na eno-rede. Contas feitas e encerrados inúmeros dossiers, chego à saudável conclusão que tudo se resume a uma questão de ego e egocentrismo. E ambos são inversamente proporcionais à dimensão do Pingas no Copo
Basicamente o Pingas no Copo tem sido uma montra de vaidade pessoal, de estimulação enófila, usado para alimentar a soberba voraz de um homem que se senta por detrás da tela.
Irei, entretanto, abandonar as classificações. A sua importância, neste momento, é nula, reduzida. O seu valor, para mim, é desprezível. Tentarei, assim, reforçar o jogo de palavras, das simbologias usadas, das comparações, do meu gosto pessoal. Pretendo, ainda mais, intensificar a vertente individual, tentando escapar à enganosa sensação profissionalizante que caiu sobre este lado da barricada.
É necessário amadurecer e ponderar sobre o que andamos a fazer neste mundo digital, cheio de malhas sociais. O que interessa saber se um vinho vale X, X+0,5 ou X+1? Defende-se, recitando, que as classificações servem como bússola íntima. Porque não ficam, então, na intimidade?
A confusão é gigante, dada a quantidade de notas e classificações circundadas pelas mesmas vedações. É muita gente a jogar de igual maneira, usando estratégias equivalentes, a lançar a bola para o mesmo lado. O centro do terreno enófilo está, portanto, muito lotado. Há que procurar novas porções de terra desocupadas.
Espero, durante o próximo ano, continuar a viver esta paixão de forma mais livre, dizendo o que penso, o que acho e o que desejo neste fortim! Quero fazê-lo de forma ligeira, com menos fantasmas, mas inflamada, tentando ainda cortar com velhas teorias da conspiração.

Comentários

Belíssima reflexão. É isso que também defendo!
Herbert
Emilio disse…
Rui, Pingas no Copo terá sido uma montra de vaidade, mas eu tenho aprendido muito. Talvez será por que em vinhos sou só gostador mas ignorante, mas as tuas opiniôes tem sido de grande ajuda para mim.
Filipe disse…
Já pensou em colocar itens como local e preço onde adquiriu o vinho (e se por ventura souber onde existe a um preço reduzido melhor ainda), que tipos de pratos e que temperatura deverá ser servido o vinho. Lá está, poderá fazer um relato da experiência que teve ou então dar uma lição aos mais novos (p.ex. EU) :) ...

Acompanho o seu blog a pouco mais de 2 meses e como lançou este tipo de assunto resolvi deixar esta minha opinião.

Continuação de boas provas!
Pingas no Copo disse…
Emilio as tuas palavras são as de um amigo.

Filipe, como deve reparar gosto de discutir, falar de assuntos menos consensuais, logo opiniões/sugestões de leitores serão sempre levadas em conta.
Antonio Madeira disse…
Rui Miguel,
Sabes que sou leitor assiduo do teu blog, é unico que sigo com mais regularidade, não por desprezo pelos outros, todos têm as suas qualidades (e defeitos), mas sobretudo porque gosto de te ler, da tua forma de ser e de escrever sobre o vinho.
Apoio-te na tua resolução em relação as notas, o importante é o que sentiste com o vinho que provaste, não o X ou X+1.
Grande abraço
Duarte disse…
Caro Pingus,
Também passo por aqui a espaços e aprecio a heterogeneidade dos posts e a fuga à prova coloquial.
Percebo perfeitamente este texto, há uns meses comprei um caderninho de provas para tomar umas notas mas cada vez que o uso é quase um sacrifício, sempre em busca de características que podem não existir, a tenatr diferenciar um vinho do outro, fugindo - sem querer - do prazer de apenas "beber"!
(confesso, no entanto, que gosto de saber as avaliações dos outros!)
Um abraço e continuação das boas reflexões em 2011!
Pingas no Copo disse…
Estimado Duarte, obrigado pelas suas considerações.
Este post representa uma profunda reflexão enófila e pretende que seja alargada.
É, também, o sinal de algum cansaço sobre o modo de olhar para o vinho, sempre através, como diz, de notas de prova e classificações. Classificações, essas, que muitas das vezes só baralham. Aqui para nós, parecem outdoors colocados nas ruas. Tem que haver mais imaginação, mais debate, mais intervenção! Depois quantas vezes elas ficam guardadas na memória?
Apostemos mais na opinião!
Um forte abraço
Pingas no Copo disse…
Regresso mais uma vez.

O que vou dizer, adequa-se também a mim. Quantas vezes olhamos para uma nota de prova prosaica e não conseguimos encontrar nela argumentos que sustentem a diferença de notas atribuídas?

Vale mais o conteúdo ou o número/nota final?
J@n31r0 disse…
Pingus,
Gostei de ler. Sim senhor. Bela dissertação. Só posso desejar força e continuar a acompanhar-te.
Pingas no Copo disse…
Obrigado Janeiro.
Todas as decisões estão carregadas de incógnitas. Tomar um caminho diferente, acho, é entrar numa demanda desconhecida. Seria muito mais confortável ficar calado e não declarar as minhas intenções e continuar a andar no limbo, cá e lá. Espero desta maneira, ter maior prazer no que faço, porque o modelo de nota de prova e classificação está, para mim, esgotado. Existe neste momento alguma poluição visual e eu próprio já rolava com o rato, não ligando às notas que se iam dando, incluindo as minhas. É preciso amadurecer e espero fazê-lo, espero mesmo. Se não conseguir fazer isto, é porque falhei!
O fim do Pingus! disse…
Que silêncio duro, meu caro Pingus você não deve ser muito bem aceite. Acho que cavou o seu fim!
Conde das Barrocas disse…
Amigo Rui, só lhe quero dizer o que estou grato por aquilo que fui aprendendo ao ler as suas crónicas, porque as classificações nunca cheguei ao patamar de ter suficientes conhecimentos para as compreender, mas pela maneira apaixonada com que foi relatando emoções e me ajudou a desfrutar de beber vinho de uma outra maneira.
Como disse o poeta:
Até no dia em que morreste mãe, existiu poesia.
Hoje eu posso dizer, que em parte foi com a sua poesia que aprendi a beber vinho.
Pedro Sousa P.T. disse…
Também cá ando...


Forte abraço...