Quanto custa um vinho?

Eventualmente este post servirá para pouco, no entanto seria útil que alguém passasse por aqui, mesmo de relance, e partilhasse o seu ponto de vista, lançasse hipóteses, esclarecesse, se conseguir, a plebe.
Num acto normalíssímo de consultar, pela manhã, a correspondência electrónica, deparo-me com o preço, alto, de um vinho, que apesar de reconhecer-lhe elevada qualidade, pareceu-me algo despropositado.
Perante tal confrontação sou assaltado por uma enxurrada de dúvidas e nenhumas respostas. Faltam-me dados palpáveis, que permitissem concretizar e limpar, de uma vez por todas, algumas das crenças falaciosas que vão ganhando raízes no meu paradigma enófilo.

Como se constrói o preço de um vinho? Que é preciso para que determinado vinho custe X, Y ou Z? Seguindo uma abordagem perfeitamente ligeira, e sem qualquer sustento argumentativo, diria que um produtor, um distribuidor, uma loja terão que pensar em meia dúzia de factores, como a história do vinho, o número de colheitas, o rótulo, a garrafa, a rolha, o estágio, ... , os outros competidores, internos ou externos. Um sem número de variáveis que não consigo quantificar. Quanto custa, por exemplo, uma vinha? Quanto custa a manutenção dessa mesma vinha? A mão de obra? As ideias quanto custam? O Ego quanto custa? O nome da região demarcada entra neste jogo? Será por isso que o Douro e o Alentejo sofrem cronicamente do síndrome do preço alto? Será por isto que em outras regiões, menos badaladas, comecem a expelirem, timidamente é certo, vinhos a preços elevados?

Não quero crer que propor, simplesmente, um vinho a valor elevado seja uma estratégia importante para conseguir crédito, fama, respeito perante os seus pares e sucesso comercial. É, mesmo, necessário para um produtor ou outro sujeito qualquer ter no seu portefólio um produto caro? Não quero crer que exista gente a viver, ainda, segundo aquela lógica arcaica: eu tenho o melhor vinho do mundo.

Comentários

Emilio disse…
Nâo tuda a gente posse dizer que té o melhor vinho do mundo por que só umos poucos temos vinho do Dâo!

Estava a brincar. Ainda, talvez tenho razâo.
J@n31r0 disse…
Caro Pingus,
Na minha modesta opinião tudo o que acima refere deverá provavelmente concorrer para o subir e descer de preços tanto do vinho como de qualquer coisa que se apresente no mercado. Desconheço a verdadeira realidade de outros paises "grandes" produtores de vinho, mas o facto é que em Portugal, de quando em vez, aparecem alguns "maus" exemplos de relação preço/qualidade, todavia quem melhor para responder a estas dúvidas senão os próprios produtores, distribuidores e vendedores. Vou dar um exemplo. Aqui a uns meses pude constatar a venda de um vinho num local a 9,5€, em que o vendedor, feliz, comentava estar a ter um bom lucro. No entanto, encontrei esse mesmo vinho à venda em ouros locais nunca abaixo dos 14€. Por isso mais uma dúvida. Quem ganha realmente com os vinhos?
Joel Carvalho disse…
Rui,

O post está correcto, a razão do texto mais correcto ainda, mas tens de perceber que estes vinhos, são os mais procurados e cobiçados do mundo! Poderão aparecer 100 pessoas com opiniões como a tua que só contribuirá para que estes vinhos sejam ainda mais falados...

Penso que quando entramos em "campeonatos" como o destes vinhos, é algo que pelo menos a mim me ultrapassa.

Grande Abraço, Joel
Rui Pereira disse…
Em tempos alguém que trabalhava na área comercial de um produtor vinícola perguntou-me se eu sabia como se fazia o preço de um vinho. Ingenuamente a minha resposta foi: é preciso considerar todos os custos a montante (vinha, adega, garrafas,...) e adicionar a margem de lucro. Pensava eu que era assim. Ele apenas me disse. O vinho irá custar aquilo que eu quiser! Fiquei sem resposta.....
AJS disse…
Poderia ser colocada a questão ao contrário. Como é que é possível colocar vinhos no mercado a preços inferiores a 1,2 ou mesmo 3 euros?
Será que os vinhos a preços estrato-esféricos são o lucro e os outros são apenas para pagar os custos inerentes de toda a linha de produção, desde a vinha ao consumidor. É possível comprar "Chateau Neuf du Pape" a preços ridiculos. porque será?
Adega dos Leigos disse…
Acho que quem realmente ganha com o vinho a sério, são as garrafeiras, restaurantes e afins. É claro que alguns produtores com o nome que já têm no mercado. A manutenção e o fazer o vinho, tem custos de manutenção, engarrafamento, rolha, rótulo, etc. Conforme as regiões assim é o seu custo, mas, não deve andar com os preços assim tão longe uns dos outros. Depois do vinho feito, aí sim, o produtor estabelece um preço a que acha melhor para ele. Conheço um produtor que já com garrafa, rótulo, rolha, embalamento e tudo o resto, o seu vinho de grande qualidade, fica perto dos 2,5€. Ele vende directamente aos restaurantes e garrafeiras, sendo o vinho em certas garrafeiras perto dos 9€ e na restauração perto dos 16€. Também já me disseram que um vinho, nunca fica mais que 3,5€ já engarrafado, seja ele qual for, com a madeira mais cara, DOC e tudo o resto que classifica um bom vinho, por isso, dá que pensar. Se o é ou não, isso já não sei.
Antonio Madeira disse…
Sem juizos de valor e analizando de forma fria, acho que o preço do vinho depende do segmento em que o mesmo se insere.
Qual é o factor determinante que leva um consumidor a adquirir uma garrafa?
Nos segmentos "mais baixos" o consumidor procura claramente o preço mais baixo, portanto ai o custo de produção/distribuição/comercialização tem de ser o mais competitivo possivel, sob pena de o vinho não se vender.
Nas gamas mais altas e principalemente nas gamas de topo, o custo ja não tem tanta importancia na definição do preço, ja que o consumidor escolhe não so pelo preço mas em prioridade por outros factores.
Em todos os casos a lei da procura e da oferta tem tendencia a verificar-se.
Penso que isto verifica-se no so nos vinhos mas tb com outros produtos. De um lado tens a logica de massa/custo e do outro raridade/originalidade/nicho/luxo.
Pingas no Copo disse…
AJS, é verdade que também podemos questionar como é que um vinho pode ser vendido de 1,5€ a 3€. Faz-nos pensar, de facto.

António, um dos aspectos que tentei dar mais enfoque é a colocação de um vinho, sem história, sem registo de colheitas anteriores, a preços estratoesféricos no mercado.
AJS disse…
Rui, na realidade para haver um vinho com preço elevado ele deveria ser apenas porque quem o produz já demonstrou no mercado um historial que lhe permita esse patamar, isto naturalmente se o vinho merecer.
Aqui está o problema; muitos dos vinhos com preços muito elevados não justificam quando bebidos. Principalmente quando no presente o mercado exige vinhos novos. Se eles só chegarem ao mercado com 3 a 4 anos de estágio é compreensivel, porque só o preço do armazenamento é uma loucura. Quando falei (escrevi) sobre os de baixo preço servirem para pagar o custo e os outros darem lucro estava a referir-me ao Douro que é o que conheço. Um vinho de topo requer vinhas velhas (caras de manter); muita selecção na entrada do lagar que não servem para outras gamas porque não são colhidas na mesma altura; garrafa e rolha a um preço elevado; assim os de menor preço são feitos apenas ao preço de custo indo os mais caros dar??? (quando são vendidos) algum lucro. Claro que não estou a falar de adegas cooperativas ou grandes empresas que pagam as uvas a um preço miseravel o que faz com que o Douro esteja a perder a sua identidade de pequenas parcelas. mas isso é outro conto
Pingas no Copo disse…
Tó Zé aceito perfeitamente que vinhos de outra estirpe possam ser vendidos a preços altos. Aceito também, que em alguns casos, esse preço possa ser justificado através do nome de alguém com créditos no meio - pode ser sinal de segurança e consistência - mas, atenção, não pode servir para tudo.
Sei, pelo menos depreendo isso, que a manutenção de vinhas velhas não seja coisa fácil. Mas, mas, continuo a questionar-me sobre o posicionamento de muitos vinhos e tu que estás no meio de uma região que sofre, um pouco desse fenómeno, perceberás esta realidade.
Depois temos um aspecto interessante e que merecia alguma reflexão de todos nós. Porque é que em anos menos bons, não se resguardam os nomes, através de 2ª marcas que em anos menores poderiam ganhar qualidade.
Não entendo, por exemplo, como é que numa colheita como a de 2006, tenhamos assistido ao lançamento de alguns vinhos completamente deslocados da qualidade habitual de outras colheitas?
AJS disse…
Claro que te dou razão quanto à reserva que deveria haver nos anos menos bons, para as marcas de topo. Mas! Sempre existe um mas. Há muitas obrigações a cumprir. O mercado, infelizmente, é muito ignorante e quer ter sempre as marcas de topo, e cada vez mais cedo. Logo a tentação é enorme.Pessoalmente penso que é um erro que se vai pagar com lingua de palmo. Mas o que é que se pode fazer.
Por Q? disse…
Rui, no seguimento da nossa conversa, o convite mantém-se, e é na quarta-feira, 13hoo, dia da grreve geral, menos nós, agradecia que tu confirmásses. Como não tenho o teu contacto, teve que ser por aqui.Sítio no Colunas.Confirma para o J.Quintela.Abraço.Raul
Vai ser interessante.
Hugo Mendes disse…
eu já uma vez fiz um exercicio desses:
http://wizardapprentice.blogspot.com/2008/05/se-tivermos-em-conta-um-percurso-de.html

penso mque ainda concordo inteiramente com o que escrevi!
para mais, até eu que tenho de fazer contas, não entendo com se podem fazer vinhos (de qualidade)a 1,5€ P.V.P..
no mais, considero que o jiusto também não é inflacionar demasiado os preço. pois, se é licito que todos têm de ganhar o seu, o preço demasiado alto tem o mesmo resultado que o preço demasiado baixo. queima a marca. a não ser que sejamos um às do marketing com dinheiro para investir! aí, podemos qq coisa, já que os portugueses bebem cartazes, publicidade e anuncios de TV!
Abílio Neto disse…
Rui,

Eu defendo a construção subjectiva do preço, onde entram critérios como a qualidade, a marca, a exposição, a região, o carácter do produtor, a notoriedade (história) etc. Porquê? Porque isso é trabalho e é valor. Admito comprar vinhos cujo preço reflectem esses critérios.

Na discussão objectiva não entro. Leio sobre ela e faço um juízo interior. Porque o acto de comprar, para mim, consumidor, é um acto que resulta numa escolha que julgo ser consciente, mas muito determinado pela minha vontade, que sei ser tudo menos objectiva, por exposta e permeável a subjectividade.

Agora, se tiver que fazer escolhas entre produtos semelhantes, considerando preços, aqueles critérios subjectivos ali em cima, contam quase sempre... e sempre olhando para o Vinho numa perspectiva global e numa outra local e emocional, também.

Abr.,

An
Pingas no Copo disse…
OLá Abilio, grato pela tua presença no meu blog. Eu também compreendo a construção subjectiva do preço do vinho e como tal admito, como sempre o fiz, comprar vinho seguindo esse critério algo discutível, agora a questão como tu referiste na última parte do teu post é para mim a essencial, quiçá, a mais importante.
Perante produtos semelhantes, e com história ou não, com créditos firmados, ou não, em determinados target, escolho aqueles que me conferem mais segurança e são "os mais acessíveis".