Malvasia de Colares, segundo Casca Wines

Será ou já o é, com toda a (in)certeza pessoal, um dos vinhos brancos mais desavindos, desusados que provei neste ano de 2010. Provém do Universo Casca Wines, um produtor jovem, com gente jovem, que faz vinho com uvas de quase todo o lado. Diria que são ariscos, mexidos e frenéticos.
A produção, deste Malvasia, apesar de exígua, quase holográfica, consegue proporcionar-nos alguns momentos de saudável convívio. Momentos em que o timbre da conversa passa ao lado da normalidade habitual. Não será certamente amado por todos. Creio, até, que terá mais gente a desapreciá-lo do que apreciá-lo. Mas para mim, e para os meus botões, é irrelevante. O meu estado de espírito enófilo alinha junto daqueles, provavelmente poucos, que encontram muitas qualidades neste Malvasia de Colares.

É um vinho que pede por copo amplo, é um branco que pede tempo, necessita de ambiente selecto, distante de frugalidades pós-modernas. Bem evoluído, com o álcool baixíssimo: são 11,5% de graduação alcoólica. ProvocatórioVeste rótulo simples, arrumadinho, limpo e arejado. Sem, e ainda bem, adornos desnecessários. Tem, no entanto, um senão: o preço a que é vendido. Os 30€ pedidos por este protótipo afastam inevitavelmente potenciais interessados. Infelizmente nada, ou quase nada, é perfeito nesta esfera terrestre.
O que interessa, para o caso, é constactar que temos aqui qualquer coisa que foge a todos os preceitos modernos, em que a barrica usada não é nova, e em que finura e equilíbrio definem bem o modo de ser deste Colares. 

Post Scriptum: Vinho disponibilizado pelo Produtor.

Comentários

Adega dos Leigos disse…
Apesar de gostar mais do Fernão Pires 2008, do Ribatejo, este Colares é sem duvida alguma um excelente branco. E o preço, é assim devido às uvas que eles compram serem as mais caras por terem menor produção.
Hugo Mendes disse…
Conheço bem o projecto e há muito que os considero uma revolução refrescante na realidade vitivinícola nacional. Mais que o aspecto económico que o projecto possa encontrar, move-os a paixão e o prazer de fazer diferente. De alternar. De fugir aos cânones enológicos vigentes. Começo a achar que é mesmo necessária elevada dose de loucura (da boa!) e uma segurança inabalável no que se faz!
O sucesso do projecto representa ainda, aos meus olhos, uma bofetada par todos aqueles que se desculpam com a vontade do consumidor para irem transformando as adegas em fábricas.
Grande futuro para Casca Wines é o que eu espero e, muitos a seguirem-lhe a peugada!
Quanto ao vinho, que dizer, provei, gostei, quero mais! Mas… eu já gostava deste vinho antes de o provar!
Para mim, este vinho começou a dizer-me algo, no dia em que o Helder me deu a cheirar uma barrica que tinha na mala do carro e que tinham comprado especialmente para aquele vinho.
Quem lhe viu o brilho nos olhos no momento em que segurava o batoque e eu metia as narinas lá dentro, só podia, como eu, apaixonar-se de imediato pelo Colares Malvasia da Casca Wines.
Pingas no Copo disse…
Boa análise Hugo.
Troquei apenas algumas palavras com o Helder, mas deu para ver que existe emoção e alegria no que faz.
Quanto ao vinho, estamos os dois de acordo.
Pingas no Copo disse…
Nuno, eu ainda consigo encontrar mais 3 que gostam do vinho. :)
Anónimo disse…
O único vinho que provei desta "quinta" foi o Douro Reserva e fiquei com a sensação que era um bom vinho, mas que se perdia no meio dos outros todos. Muito certinho, algo doce, com bom teor de álcool, mas que no final fica sem causar grande sensação de prazer ou surpresa. E por 10€/garrafa encontram-se vários vinhos acima deste.

Algum de vocês já experimentou este tinto?

NF
Pingas no Copo disse…
Estimado NF, gostaria de o ajudar, mas não provei o vinho.
Conheço este malvasia e o fernão pires. Julgo, com todas as reservas, que serão eventualmente os porta estandartes deste curioso Projecto.